(Hoje vou escrever algo diferente. Você vai ver.)
Estou cansado de escrever sempre no mesmo formato, ou nos mesmos (aqueles que se encaixam nos blogs já existentes). Hoje será diferente, e vai cair aqui por caridade. E pra não manchar nenhum dos outros!
Como eu ia dizendo, eu ia escrever algo diferente. Eu, que ainda não dominei o uso da terceira pessoa para falar de mim como se faz por aí (ah, como eu gostaria de por um link nesse acentinho!), nem omitir naturalmente o pronome.
A matemática me enche de noções e símbolos. Uma vez as manipulações matemáticas eram escritas todas como palavras (mais ainda, como poesia!). Talvez por isso o progresso foi bem limitado, mas pelo menos naquela época havia diversão. Até tentei cantar o teorema de Riemann (que é exageradamente bonito). Pense em I Want To Hold Your Hand:
Let it Ω
subset of C
open simply conex
Let it D
subset of C
the unit circle
Then exists
from Ω to D
a bijection holomorf
a bijection holomorf
a bijection holomorf
Mas não. Os Beatles não fariam sucesso se fosse assim. Pra fazer música precisa ter sentimento, e por maior que seja nossa admiração por um fato tão incrível (se bem que sendo verdadeiro ele é tão incrível como qualquer outro), ainda não é um sentimento.
A música e os textos criativos vem do amor. (Aceite sem demonstração!) Não sei se o que falta é o amor ou se há repreensão. E não sei daonde extrairei. Não quero chafurdar em nada pornográfico (meus eternos preconceitos de "nível"; seria muito baixo e muito fácil, prefiro algo mais puro e elevado), nem em nada perdido que dê em lugar nenhum. Mas como ser criativo se preciso ser, além de objetivo, ter algum objetivo? Bem, pode ser que o o objetivo exista independente de sabermos; nesse caso isso salva? Não sei.
Nunca gostei de foto de olhos. Não há nada especial num olho (prefiro um fractal se for um caso). Mas o que a gente pode fazer pra aparecer? Dizer que gostamos do que é pop ou cult? Por que o cult (ou ao menos o que chamo de cult, e prefiro nem dizer o que é pra ninguém vir me encher o saco depois) é uma espécie de pop para os desolados, que querem ser diferentes, especiais, deslocados do mundo (no mais perfeito exemplo de Caio F.). Vamos nos jogar ao canto e sermos alternativos, zuiá (ouié já é comum!). Bizarrices e hecatrices, ou você não sabia que existe uma carta assim? E o que adianta ser se ninguém sabe o que você é? Isso pra qualquer lado: de correto e eficiente para desolado e esquisito. A divulgação é o que salva, e isso me dói dizer, porque nada adianta ser se não parecer, e além de parecer tem que aparecer. Isso tudo é muito complicado, e justo o contrário do que esperava uma vez, de forma que, se em menos de vinte e quatro horas não joguei minha vida inteira fora, ao menos perdi um bom tempo imaginando algo ideal e que tudo tenderia a uma boa situação; mas não! Parece fortemente que não; a equação da vida é muito mais caótica, é uma EDP bizarra num fractal, cuja solução talvez nem seja contínua. E é assim que a gente tem que encarar, sem orientação nenhuma. Talvez ser adulto seja justamente isso: reconhecer que a vida é uma EDP fodida e intratável.
Cores e aquela ilusão do plástico quando recebe luz: não há mais, ou não mais houve. Só houve estudo de materiais birrefrigentes. É interessante, até, mas buscando por esses fenômenos específicos perdemos um pouco da observação e contemplação dos fenômenos mais comuns e mais difíceis de explicar com exatidão. Daí fica-se sempre na mesma coisa: faz falta um mistério básico.
Em qual arco da Terra o arco-íris passa? Por que eles está sempre na mesma direção e nunca acima? Não sei.
R^4 é o único R^n que tem várias (não enumerável, inclusive!) noções de derivações. Quero me impressionar com isso, mas como faço? E como impressiono os outros? Não dá. Mesmo a verdade mais incrível precisa de requisitos muito fortes para ser percebida (que nem cumpro direito). Enfim, fica o vazio do que é incrível e você sabe que é mas que não te impressiona devido a sua ignorância. Daí ficam as opções de passar adiante (a mais escolhida), tentar entender (a opção mais difícil) ou simplesmente deixar pra lá. Mas como ignorar se o sei, e se quero saber e falar algo bom e impressionar e gostar do que o mundo nos oferece (nem que, como nesse caso, sejam necessários os mais robustos dentes), e no fim fica essa paçoca toda (gosto de comidas com uma forma razoável, não curto tanto as potchecas), e nem vamos falar muito que daqui a pouco entramos no assunto do vômito.
O vômito é um recurso literário legal. Fico impressionado como o Caio F estabelece relações com esse fluido tão... tão... ácido de forma a parecer que um submundo é cool, que estamos perdendo por sermos certinhos e não sofrer tanto, nem se apavorar com as coisas mais banais como Saturno entrando em São João. Poderia tentar fingir que sou um dos seus personagens, mas simplesmente não sou, e principalmente a imagem que os outros têm de mim é do oposto, de forma que mesmo que mude vai demorar tanto pra convencer que não colherei os frutos de ser conhecido por tal (ser conhecido por qualquer coisa já é um fruto doce). No fim, tento me esgueirar pelo estreito caminho de vida que tenho - o que esperam de mim é diferente do que quero me tornar. Isso é complicado, e como sempre eu poderia esquecer e ignorar, não sei se os outros fizeram isso pois não sei se tiveram o mesmo problema. (O problema oposto, de querer fazer coisas bem feitas quando ninguém confia em você, também é o mesmo problema, de forma que aqui identificamos os antípodas e até fizemos um espaço projetivo. Ah, você que entendeu, vai dizer que não é curioso que essa noção emerja aqui?)
Disse que essa postagem seria diferente das outras. Espero que seja mais diferente das passadas (as pegadas!) do que das próximas, porque esse estilo é legal e além disso ele me deixa a impressão de que sou um bom digitador, fazendo um barulho do cão, embora eu praticamente só use os indicadores.
Então, vida nova a esse blog, e menos leitores, quer dizer, pelo menos eles terão de passar por um teste de resistência a chatice e idiotice prolongada para dizer que leram, se bem que eles podem mentir, para o prejuízo deles (que nada, para o lucro! Mentindo, eles obtém melhores resultados de mim, bem ao estilo do livro O Gene Egoísta).
Aliás, que droga mentir levar a bons resultados. Devia ser diferente, mas quem fala aqui é o ideal, totalmente perdido no anel (ah, esses trocadilhos matemáticos são muito cretinos, muito mesmo...).
Só pra não terminar com o trocadilho, me despeço cantando O Passeio Da Boa-Vista.
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